O fenômeno das apostas esportivas, popularmente conhecidas como bets, vem preocupando pastores e líderes religiosos em várias igrejas evangélicas do Brasil. A adesão crescente dos fiéis ao universo das apostas online tem revelado um cenário alarmante, especialmente entre alguns cristãos que buscam prosperidade de maneira rápida e desavisada. Uma recente pesquisa realizada pelo PoderData, entre os dias 12 e 14 de outubro, aponta que 29% dos evangélicos já fizeram uma aposta virtual, um índice acima da média geral de 24% e dos 22% entre católicos. Além disso, o endividamento também atinge níveis mais altos neste grupo: 21% dos evangélicos enfrentam dívidas devido ao vício em apostas, contra 16% da média total e 12% entre católicos.
Casos de Crentes Endividados se Multiplicam nos Templos
Casos de crentes endividados por causa das apostas se multiplicam nos templos, trazendo histórias de perdas financeiras e crises familiares. O apóstolo Estevam Hernandes, da Igreja Renascer em Cristo, relatou o caso de um jovem que, desesperado ao se ver sem dinheiro para pagar uma conta durante um jantar, apostou tudo que tinha – e perdeu. Já a vendedora Tania Martins Vieira, de 48 anos, revela que perdeu meio milhão de reais devido ao vício, que começou por curiosidade e se agravou com a digitalização dos jogos. Seu apartamento está em leilão e, por pouco, ela não perdeu a própria vida em uma tentativa de suicídio.
Perigos Espirituais e Sociais das Apostas
Pastores alertam para os perigos espirituais e sociais das apostas, destacando que a prática, ao prometer riquezas fáceis, leva muitos a afastarem-se de Deus. O bispo Renato Cardoso, da Igreja Universal, culpou o “espírito do demônio da riqueza, chamado Mamom” pelo aumento da compulsão entre os fiéis, explicando que a cobiça pela riqueza pode afastar as pessoas de sua fé. De maneira semelhante, o pastor Silas Malafaia alerta sobre o perigo espiritual do jogo, que ele vê como um instrumento do diabo para “roubar, matar e destruir” famílias.
Atração Pelo Marketing das Apostas
Muitos evangélicos, atraídos pelo marketing das apostas, se identificam com slogans como “profetizou, jogou, sacou”, uma frase que ressoa especialmente entre aqueles acostumados a ouvir sobre a manifestação da fé e prosperidade. Segundo Marília de Camargo Cesar, autora de livros sobre a relação dos fiéis com a fé, essa abordagem é uma jogada de marketing que se conecta diretamente ao crente, oferecendo-lhe um atalho para a prosperidade que, na realidade, resulta em prejuízos e dor.
Buscando Soluções Espirituais e Comunitárias
Muitas igrejas estão promovendo programas terapêuticos baseados em princípios cristãos, como o Celebrando a Recuperação (CR), que se inspira nos 12 passos do Alcoólicos Anônimos. Esses programas têm ajudado aqueles que buscam uma saída do vício das apostas, oferecendo apoio comunitário e orientação espiritual.
Desafio para as Igrejas Evangélicas
O desafio para as igrejas evangélicas é imenso. Enquanto pregam contra os perigos das apostas, devem lidar com o crescente apelo dessas práticas entre seus próprios fiéis, muitos dos quais se encontram desesperados, endividados e espiritualmente fragilizados. A responsabilidade das lideranças religiosas em combater esse problema e acolher os afetados é crucial para evitar que mais vidas sejam destruídas por esse “atalho” para a prosperidade. Como alerta o pastor Malafaia, a solução para os fiéis é clara: “Orar a Deus, ler a Bíblia, e pedir a libertação dessa praga”.