O preço do ovo sofreu um aumento significativo na região de Campinas (SP), com uma alta de 21,7% em fevereiro deste ano, quando comparado ao mesmo período de 2024, segundo um levantamento realizado pela Universidade de São Paulo (USP). O principal motivo apontado para essa elevação é o calor extremo, de acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
Alta no preço e impacto na produção
O estudo, conduzido pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da USP, revelou que a caixa com 30 dúzias de ovos no atacado foi comercializada a R$ 202,52, um aumento expressivo de 38,8% em relação a janeiro.
Segundo a zootecnista Giseli Neri, três fatores principais contribuíram para essa alta:
- Custo de produção, incluindo alimentação e embalagens;
- Aumento do consumo, principalmente por conta da quaresma;
- Altas temperaturas, que afetam diretamente a produtividade das galinhas.
“Quando a galinha começa a sentir calor, a produtividade dela diminui”, explica a especialista.
Além disso, o diretor de uma granja, Luiz Demattê, aponta que o crescimento das exportações também tem impacto direto no mercado interno. A gripe aviária, que afetou a produção de diversos países, aumentou a demanda internacional pelo produto brasileiro. “A escassez de ovos no mundo ampliou muito a exportação de ovos no Brasil”, destaca.
Efeito do calor extremo na produção
O calor excessivo tem impacto direto na produção de ovos, pois as galinhas entram em estresse térmico a partir dos 27°C, o que reduz sua produtividade.
Além de botar menos ovos, a qualidade também é prejudicada, resultando em cascas mais finas, o que aumenta as perdas por quebra. “Além de a produção estar menor, a perda fica maior. Isso resulta em menos ovo no mercado”, acrescenta Neri.
Outro problema é o aumento da mortalidade das aves, já que muitas não resistem ao calor. Como o ciclo produtivo das galinhas é longo, levando 18 a 19 semanas para começarem a produzir ovos, a reposição das aves não acontece rapidamente.
Aumento dos custos de produção
Dois fatores principais elevaram os custos de produção, conforme explica Neri:
- Embalagens, que sofreram um aumento de 90%;
- Alimentação, que representa cerca de 70% dos custos e é composta, principalmente, por farelo de soja e milho. O milho, em especial, teve uma alta significativa nos preços, refletindo diretamente no custo final do ovo. “Se o milho sobe, isso tem um impacto alto no preço dos ovos”, afirma.
Além disso, os produtores precisaram investir em nebulizadores e ventiladores para tentar reduzir a temperatura nas granjas, o que elevou ainda mais os custos operacionais.
Aumento do consumo durante a quaresma
Outro fator que contribui para a alta no preço é a quaresma, período que antecede a Páscoa e em que muitas pessoas, por tradição religiosa, reduzem o consumo de carne e substituem pela ingestão de ovos.
“Por tradições religiosas, as pessoas tendem a comer menos carne. Quando reduz o consumo de carne, aumenta o consumo de ovo. Acontece uma substituição de proteínas na alimentação da população”, explica a zootecnista.
O preço do ovo vai cair?
A expectativa é que os preços voltem a diminuir com o fim da quaresma e, principalmente, com a chegada do outono, quando as temperaturas tendem a cair.
“A partir do momento que começar a sair do verão e entrar para o outono, tende a melhorar também. Porque as galinhas vão se sentir melhor, vão ficar mais felizes e vão produzir mais ovos para gente”, finaliza Neri.