A trajetória do piloto Rodrigo Pacetta, cuja formação teve como base o Kartódromo San Marino, em Paulínia (SP), mostra como o esporte pode ir muito além da velocidade das pistas. Hoje, o piloto e professor dedica sua carreira a ensinar crianças, jovens e adultos, com aulas que unem técnica, educação e até benefícios terapêuticos.
A paixão pelo automobilismo começou cedo. Aos 11 anos, Rodrigo se inspirou em uma foto do pai, também aos 11, sentado em um kart de número 28, em uma corrida de rua no Parque São Quirino, em Campinas. O pai havia falecido quando ele tinha apenas cinco anos, mas a lembrança foi determinante: “Foi o que me inspirou a entrar em um kart. Ele corria como hobby, mas adorava. E eu dei continuidade a isso”, relembra.
Determinando a realizar o sonho, Rodrigo trabalhou até conseguir comprar seu primeiro kart, aos 16 anos. Em 1997 fez o primeiro treino em Itu, no antigo Kartódromo Schincariol, e no ano seguinte disputou a primeira corrida em Limeira. Pouco depois, conquistou seu primeiro troféu em uma prova de rua, em Atibaia.
Do piloto à equipe GP28
A relação com o Kartódromo San Marino começou em 2011, quando se tornou um dos primeiros pilotos a treinar no local. Competindo no Campeonato Paulista, conquistou títulos em 2011 e 2014, sempre treinando em Paulínia.
No final de 2014, fundou a equipe de kart GP28, que se tornou referência entre 2015 e 2021, conquistando títulos nacionais e participando de competições de endurance. “A GP28 foi uma grande escola pra mim, porque percebi que eu tinha condições de transmitir o que havia aprendido para os pilotos”, conta Rodrigo.
A pandemia, no entanto, trouxe dificuldades e levou ao fim da equipe. Mas isso abriu um novo caminho: Rodrigo decidiu focar na carreira como professor de kart, unindo experiência e um olhar educador. “Eu queria fazer algo diferente dos demais, atuando também como educador. Sempre acreditei que o kart podia ter uma função terapêutica e transformadora, e hoje isso me dá até mais prazer do que competir”, afirma.
Atualmente, ele atende cerca de 230 alunos por mês, entre aulas coletivas e individuais, e já iniciou aproximadamente 1.500 pessoas no kartismo.
O kart que cura e transforma
As histórias de superação entre seus alunos são inúmeras. Crianças com autismo, jovens com TDAH, idosos em depressão, pessoas obesas e até motoristas inseguros encontraram no kart um novo caminho.
Rodrigo destaca casos marcantes: “Tenho um aluno que chegou com 111 quilos e já está com 102. Outro, que enfrentava depressão após a separação, com problemas que envolviam os filhos, está mudando totalmente graças ao kart”, relata.
O exemplo do aluno em depressão o emociona: “Estava em uma depressão clara, com características de quem está realmente com a saúde debilitada, e hoje é outro. É o melhor exemplo de transformação”.
Outro caso lembrado foi de um ex-aluno que nasceu com problema de paralisia e teve progresso significativo no kart, chamando a atenção dos profissionais que o acompanhavam. Já os alunos autistas também são motivo de inspiração. “Tenho um aluno com grau dois de autismo, uma criança, que está pilotando. É demais, fico comovido só de falar. O mais maravilhoso de tudo que está acontecendo na minha vida é poder ajudar essas pessoas através do esporte que eu amo. Só agradeço”, emociona-se.
O objetivo vai além do pódio
Se antes o foco era a vitória nas pistas, hoje o professor busca algo maior: formar cidadãos. “O kart ensina responsabilidade, comprometimento, respeito e dedicação. É muito parecido com a vida: traz alegrias, mas também frustrações e lições de superação”, diz Pacetta.
Ele defende que a formação de base é tão ou mais importante do que preparar pilotos de alto rendimento, destacando que o kart deve ser visto como qualquer esporte de iniciação, como futebol ou natação. “Dar iniciação ao kart é hoje a grande satisfação da minha vida. Quando vejo meus alunos vencerem suas próprias barreiras, atingindo objetivos, entendo que tudo valeu a pena até aqui”.

