As chamadas “canetas de emagrecimento” se tornaram um fenômeno nas farmácias brasileiras, com promessas de perda de peso por meio de aplicações subcutâneas semanais ou diárias. Celebridades e milhões de usuários ao redor do mundo aderiram à tendência, mas especialistas alertam que o uso sem prescrição e acompanhamento médico adequado pode trazer riscos à saúde.
Esses medicamentos, originalmente desenvolvidos para o tratamento do diabetes tipo 2, incluem substâncias como liraglutida, semaglutida e tirzepatida. Eles atuam mimetizando o hormônio GLP-1, que regula a saciedade e o esvaziamento gástrico, aumentando a sensação de plenitude e reduzindo a ingestão alimentar — o que contribui para um emagrecimento sustentado.
De acordo com dados da IQVIA, empresa global de análise de mercado farmacêutico, as vendas de medicamentos à base de GLP-1 cresceram mais de 400% nos últimos três anos no Brasil, impulsionadas pela procura por marcas como Ozempic (semaglutida) e Saxenda (liraglutida). A chegada da versão nacional da liraglutida, produzida pela EMS, deve aquecer ainda mais o mercado.
O médico George Mantese, especialista em Medicina de Família e Comunidade e diretor do Instituto Mantese de Anti-Aging e Longevidade, reforça que o uso deve ser guiado por avaliação clínica, exames laboratoriais e um plano de acompanhamento.
“Esses medicamentos podem trazer benefícios importantes no controle da obesidade e das comorbidades associadas, como diabetes, hipertensão e apneia do sono. Mas seu uso deve ser sempre guiado por avaliação clínica, exames laboratoriais e um plano de acompanhamento”, alerta.
Segundo Mantese, fatores como custo, efeitos colaterais, frequência de uso e acompanhamento profissional influenciam diretamente na adesão ao tratamento.
“Estudos apontam que a taxa de abandono é alta entre pessoas que iniciam o uso sem orientação — muitas vezes interrompendo após os primeiros sintomas adversos”, explica.
“Essas drogas exigem ajustes progressivos de dose e monitoramento laboratorial. Além disso, o paciente precisa estar envolvido em mudanças de estilo de vida. Senão, o efeito é temporário e os riscos aumentam.”
Os efeitos colaterais mais comuns incluem náuseas, vômitos, diarreia, constipação e sensação de estufamento, geralmente leves e que tendem a diminuir com o tempo. Contudo, o uso deve ser cauteloso em pessoas com distúrbios gastrointestinais, histórico de depressão grave ou transtornos alimentares.
Para o especialista, as canetas injetáveis representam uma inovação importante no enfrentamento da obesidade, reconhecida como doença crônica e multifatorial. Porém, o entusiasmo popular e o marketing agressivo não devem substituir a avaliação médica criteriosa.
“Emagrecer não pode ser encarado como um ato isolado. É um processo que envolve saúde física, mental e social. Essas medicações podem ser grandes aliadas — desde que inseridas num plano de cuidado completo, com metas realistas e segurança”, conclui Mantese.
